No dia 8 de fevereiro, a Igreja
faz memória à Josefina Bakhita, a escrava sudanesa que virou santa. Esta flor
africana, que conheceu a angústia do rapto e da escravidão, floresceu
maravilhosamente na Itália, em resposta à graça de Deus, com as Filhas da
Caridade.
Infância
Josefina
Margaret Bakhita nasceu por volta de 1869 no Sudão, fazia parte do povo Daju e
era sobrinha do chefe da tribo. Enquanto criança, por conta da sua linhagem
familiar, ela cresceu feliz e teve uma vida relativamente próspera, não
conhecendo sofrimento algum.
Sequestro
De
acordo com alguns historiadores, em 1877, Josefina foi sequestrada por
mercadores de escravos. Embora ainda fosse uma criança, a menina foi forçada a
caminhar por mais de 960 quilômetros até chegar ao mercado de escravos em El
Obeid. Neste caminho, ela foi vendida e comprada duas vezes.
Pelos
próximos 12 anos ela seria comprada, vendida e dada dezenas de vezes. Ela foi
deixada tanto tempo no cativeiro que se esqueceu dos nomes de pais e do seu
próprio. Bakhita foi o nome que deram a ela, em árabe significa “sortuda”.
Escravidão
Como
escrava, ela foi tratada das mais variadas formas: desde digna quanto
cruelmente. Seu primeiro dono a deu como empregada a suas filhas. Sua tarefa
era fácil até que repreendeu o filho de seu dono por, possivelmente, quebrar um
vaso. Como punição, ela apanhou tanto que ficou incapacitada por um mês. Após
isso, ela foi vendida.
Mas
os suplícios estavam longe de terminar. Outro dono dela foi um general turco
que a deu para sua esposa e sua sogra que a batiam diariamente. Tão logo suas
feridas saravam, outras eram abertas, revelou certa vez Josefina. Ela contou
como a mulher do general ordenava que ela fosse marcada: enquanto sua senhora
assistia, segurando um chicote, outra mulher fazia os desenhos em sua pele com
farinha, então cortava sua pele com uma lâmina e esfregava sal para tornar a cicatriz
permanentemente. Santa Bakhita carregou em sua pele cerca de 114 cicatrizes,
frutos deste abuso.
Em
1883, o general turco a vendeu para o vice-cônsul italiano, chamado Callisto
Legani. Ele era gentil com Josefina e nunca a bateu. Quando ele teve que retornar
à Itália, Josefina implorou para que ele a levasse também, o que ele consentiu.
Assim eles percorreram um caminho perigoso do Sudão, passando pelo Mar Vermelho,
pelo Mar Mediterrâneo para enfim chegarem à Itália. Lá, ela foi dada para outra
família italiana como um presente, e logo tornou-se babá.
Os
novos donos de Josefina tinham negócios no Sudão, e certa vez que a senhora
decidiu viajar para lá sem ela, Bakhita ficou sob a custódia das Irmãs
Canossianas em Veneza.
Conversão
Enquanto
esteve no convento, Josefina aprendeu sobre Deus. De acordo com relatos da santa,
ela sempre soube que havia Deus, que criou todas as coisas, mas ela não sabia
quem Ele era. As irmãs tiraram todas as suas dúvidas. Ela ficou profundamente
comovida e discerniu sobre seu chamado para seguir a Cristo.
Quando
sua senhora voltou do Sudão, Josefina se recusou a partir. A dona passou três
dias tentando persuadi-la a voltar para casa, mas Bakhita permaneceu
irredutível. Isso fez com que a superiora do instituto de candidatas ao batismo
entre as irmãs se queixasse às autoridades italianas em nome de Josefina.
O
caso foi a tribunal, e a corte considerou que a escravidão era ilegal no Sudão,
antes do nascimento de Josefina, assim, ela não poderia ser legalmente escrava.
Ela foi declarada livre.
Pela
primeira vez em sua vida, Josefina estava livre e poderia decidir o que fazer
com sua vida. Ela escolheu permanecer com as Irmãs Canossianas.
Ela
foi batizada em 9 de janeiro de 1890 e escolheu o nome Josefina Margarida e
Fortunata (Fortunata é a tradução em Latim do nome árabe Bakhita). No mesmo
dia, ela recebeu a Primeira Comunhão e o Crisma. Os sacramentos foram
ministrados pelo Arcebispo Giusseppe Sarto, que anos depois tornara-se o Papa
Pio X.
Josefina
tornou-se noviça em 7 de dezembro de 1893, e fez seus votos finais em 8 de
dezembro de 1896. Assim, ela foi finalmente designada para um convento em
Schio, Vicenza.
Pelos
42 anos seguintes, ela trabalhou como cozinheira e porteira no convento. Ela
também viajou e visitou outros conventos dando seu testemunho para outras
irmãs, preparando-as para trabalhar na África.
A Mãe Negra
Josefina
ficou famosa entre as irmãs por sua voz suave e seu sorriso. Ela era gentil e
carismática, e era frequentemente chamada, carinhosamente, de a "irmãzinha
morena" ou honrosamente como a "mãe negra".
Uma
vez, uma aluna perguntou a Bakhita o que ela faria se ela encontrasse seus
sequestradores. Sem hesitação, ela respondeu: “Se eu encontrasse aqueles que me
sequestraram, e ate mesmo aqueles que me torturaram, eu me ajoelharia e
beijaria suas mãos. Pois, se essas coisas não tivessem ocorrido, eu não teria
me tornado cristã e não seria uma religiosa hoje”.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, as pessoas do vilarejo de Schio recorriam a ela como intercessora,
e embora, bombas houvessem caído no vilarejo, nenhum cidadão morreu.
Em
seus últimos anos de vida, ela sofreu com muitas dores físicas e foi forçada a
usar uma cadeira de rodas. Porém, ela sempre permaneceu alegre. Se alguém
perguntasse a ela como ela estava, ela costumava responder: “Como o Mestre
deseja”. Durante sua agonia, ela reviveu os terríveis dias de sua escravidão e
mais de uma vez implorou à enfermeira que a assistia: "Por favor, afrouxe
as correntes ... elas são pesadas!"
Foi
Maria Santíssima quem a libertou de toda dor. Na tarde de 8 de fevereiro de
1947,Josefina proferiu suas últimas palavras: “Nossa Senhora, Nossa Senhora!” e
seu sorriso final testemunhou seu encontro com a Mãe do Senhor.
Seu corpo
ficou exposto por três dias. Uma multidão rapidamente se reuniu no convento
para se despedir de sua “mãe negra” e pedir sua proteção do céu. A fama de sua
santidade se espalhou por todos os continentes e muitos são aqueles que recebem
graças por sua intercessão.
Processo de Canonização
Em
1958, o processo de canonização de Josefina foi aberto pelo Papa João XXIII. Em
primeiro de dezembro de 1978, o Papa João Paulo II a declarou venerável. Infelizmente,
as notícias sobre sua beatificação em 1992 foram censuradas no Sudão. Entretanto,
nove meses depois, o Papa João Paulo II visitou o Sudão e a honrou
publicamente. Josefina Bakhita foi canonizada no dia primeiro de outubro de
2000.
Santa
Josefina Bakhita é a padroeira do Sudão e seu dia é celebrado em 8 de
fevereiro.
5 lições que podemos tirar da
história de Santa Josefina
- Perdão: Josefina enfrentou muitas dificuldades em sua vida,
todavia ela mostrou misericórdia, ao dizer que agradeceria aqueles que a
raptaram e causaram tanto trauma a ponto de ela esquecer o próprio nome. Mesmo com
uma pele coberta de cicatrizes, causadas pela crueldade de seus donos, gentileza e amabilidade eram o que refletia de seus atos.
- Identidade: Pelo trauma causado por seu trauma quando era apenas
uma menina, Josefina perdeu sua identidade. Ironicamente, o nome que recebeu de
seus algozes “Bakhita” tornou-se sua marca, pois foi capaz de encontrar fortuna
espiritual em sua verdadeira identidade de filha de Deus.
- Diversidade: Josefina é um modelo para todos os povos, e provou
que Deus ama a todos independente de qualquer característica física e amou
também a todos a seu redor, sendo gentil e caridosa.
- Liberdade: Tirada de sua família e traficada, Josefina encontrou
liberdade física em um convento italiano e liberdade espiritual em Deus. Hoje,
ela é considerada uma intercessora por aqueles que são traficados em todo o
mundo.
- Fé: Nos seus anos como porteira, Josefina exalava uma graça inabalável. O povo de Vicenza gostava muito dela, chamando-a de “mãe negra”. Embora ela carregasse as cicatrizes físicas e psicológicas de seus anos como escrava sudanesa, ela nunca perdeu a fé. “Ó Senhor”, ela disse uma vez, “se eu pudesse voar para o meu povo e contar a eles a sua bondade no alto da minha voz, oh quantas almas seriam conquistadas!” Depois que ela morreu, estava escrito que sua mente estava sempre fixa em Deus, enquanto seu coração ainda estava na África. Josefina mostrou o que pode ser superado quando nos apegamos à nossa fé.
Josefina
teve o corpo mutilado por aqueles que a escravizaram, mas nenhum deles pôde
tocar a sua alma. Ela serviu a muitos senhores, mas por fim estava feliz por
servir a Deus e cuidar de tudo que ela acreditava ser a vontade de Deus para
ela.
A
maior felicidade da vida de Josefina não foi alcançar a liberdade, contudo
conhecer a Deus. Tal felicidade a preencheu por completo que ela deseja que
todos pudessem sentir o mesmo: “Seja bom, ame o Senhor, ore por aqueles que não O conhecem. Que grande graça é conhecer a Deus!”.
Referências Bibliográficas: